Falar em Línguas - Uma tolice?
Por Merlin Carothers
O culto era bem diferente do que estava
acostumado. Os crentes cantavam com uma alegria descontraída, batiam palmas e
até mesmo levantavam os braços quando cantavam. Tanto Dick quanto eu
sentíamo-nos desajustados, mas concordei que havia ali um certo gozo que nunca
experimentáramos e o qual bem precisávamos conhecer. Uma senhora de aparência
fina dirigiu-se a nós varias vezes e perguntou: “Já aconteceu alguma coisa?”
“Não, senhora. O que quer dizer com isso?” Respondíamos. “Vocês verão; vocês
verão”, dizia. Ruth e as outras pessoas que nos haviam convidado a ir ali
sugeriram que fossemos falar com uma certa senhora que diziam possuir um poder
incomum. Apresentaram-nos a ela e de imediato não gostei. Ela mencionava as
Escrituras de uma maneira que parecia querer converter-me. Não gostava quando
pessoas citavam a Bíblia daquele modo para mim e principalmente não gostava que
uma mulher o fizesse. Nossos amigos, porém, insistiam que tivéssemos uma
conversa com ela, e como eles tinha pago tudo para nós, sentir que devia
dar-lhe esta satisfação. Sentamo-nos a ouvir pacientemente, e ela nos contou o
que Deus havia feito em sua vida e na vida de outros. Mencionou várias vezes o
“batismo no Espírito Santo” e nos mostrou na Bíblia que essa experiência tinha
sido comum entre os crentes do primeiro século. “O Espírito Sant ainda realiza
a mesma obra hoje”, disse. “Jesus Crista ainda batiza com o Espírito Santo
aqueles que crêem nele, exatamente como o fez no dia de Pentecostes.” Senti uma
ponta de vibração. Será que eu poderia experimentar o meu próprio pentecostes?
Será que poderia ver as línguas de fogo, ouvir o vento impetuoso, e falar em
outras línguas? Ela terminou de falar e ficou olhando para nós. “Eu gostaria de
orar pelos senhores”, disse suavemente, “para que recebam o batismo com o
Espírito Santo.” Sem hesitação eu disse sim. Ela colocou as mãos sobre a minha
cabeça e começou a orar. Eu esperava que algo me atingisse. Nada aconteceu. Não
senti nada. Ela colocou as mãos na cabeça de Dick. Quando acabou de orar olhei
para ele e ele olhou para mim. Percebi também que ele não tinha sentido nada. O
negócio era falso. A senhora olhou para nós com um leve sorriso. “Ainda não
sentiram nada, já?” Balançamos a cabeça em negativa. “Não, senhora.” “Vou orar
pelos senhores numa língua estranha também.” Novamente ela impôs as mãos sobre
a minha cabeça. Não senti, não vi e nem ouvi nada. Quando acabou de orar, ela
me perguntou se eu não ouvia ou sentia dentro de mim umas palavras que não
compreendia. Pensei um pouco, e percebi que realmente havia em minha mente umas
palavras que não significavam nada. Estava certo de eram apenas produto de
minha imaginação e disse-o a ela. “Se o senhor as dissesse em voz alta,
sentir-se-ia ridículo?” “Certamente que sim.” “Estaria disposto a ser ridículo
por amor a Cristo?” Esta pergunta colocava a questão sob um prisma inteiramente
diferente. Naturalmente eu faria qualquer coisa por Cristo, mas falar em voz
alta uma tolice tal poderia ser a destruição do meu futuro. Eu imaginava
aquelas pessoas saindo dali e contando a todo mundo que o capelão metodista
tinha recebido o dom de línguas. Podia até ser que eu tivesse que deixar o
exército! Mas, e se isto fosse exatamente o que Deus queria que eu fizesse? De
repente, até minha carreira pareceu de pouca importância. Ainda hesitante,
comecei a falar as palavras que estavam na minha mente mesmo assim não senti
nada de diferente. Eu cria que Jesus Cristo havia me dado uma nova língua como
sinal de que havia me batizado com o Espírito Santo; entretanto, os discípulos,
no dia de pentecostes, haviam agido como bêbados. Certamente eles estavam
tomados por um certo sentimento. Olhei para Dick. Ele fazia o mesmo que eu.
Falava palavras numa língua estranha e parecia crer na validade da experiência
e, no entanto, não mostrava nenhuma reação emocional. “A experiência baseia-se
na fé em um fato, não em sentimento”, disse aquela senhora, aparentemente lendo
a nossa mente. Fiquei pensativo – não me sentia diferente; mas estava
diferente? Levantei os olhos; subitamente compreendi uma coisa: “Eu sei que
Jesus Cristo está vivo!” disse. “Eu não apenas creio; eu SEI!” Mas,
naturalmente! O Espírito Santo dá testemunho de Jesus Cristo, diz a Bíblia.
Agora eu sabia que aquilo era verdade. Aqui estava a fonte da grande autoridade
dos discípulos após o pentecostes. Eles não apenas se lembravam de um homem que
tinha vivido, morrido e ressuscitado. Eles o conheciam no presente porque ele
os tinha enchido com o seu Espírito Santo, cujo propósito essencial é
testemunhar de Jesus Cristo. Como um raio, compreendi o horror de que eu havia
sido culpado durante os últimos anos. Não somente eu, mas milhares de crentes,
nos púlpitos e nos bancos, cometem o erro de diluir a mensagem da cruz, e tirar
Cristo da posição central que deve ocupar. Ao mesmo tempo que via a enormidade
de meu pecado, vi também a Jesus Cristo em todo o seu esplendor, como meu
redentor. Vi-o como bem no fundo do meu coração eu sabia que ele era. Todas as
dúvidas inquietantes que tivera recentemente foram varridas por uma onda de
alegre certeza. Aquilo era glorioso demais! Nunca mais duvidaria que Jesus
Cristo era quem afirmara ser. Nunca mais iria cometer a insensatez de pensar
que ele era apenas um homem, um homem bom e um exemplo para nós seguirmos. Que
verdade maravilhosa! Jesus Cristo vivendo em nós, seu poder operando através de
nós. Ele é a videira; sua vida é a nossa própria vida. Sem ele nada somos; em
nosso próprio poder não conseguiríamos realizar nada. “Obrigado, Senhor Jesus.”
Levantei-me, e quando estava de pé, algo veio a mim. Fui subitamente cheio, até
transbordar, de um sentimento de calo humano e amor para com todos aqueles que
estavam naquele aposento. Dick também deve tê-lo recebido no mesmo momento. Vi
lágrimas se formando em seus olhos e sem dizer palavra, adiantamo-nos e
abraçamo-nos fortemente, chorando e rindo ao mesmo tempo. Olhei para a querida
irmã com quem momentos antes tinha antipatizado e compreendi que a amava. Ela
era minha irmã em Cristo. Descemos para almoçar e senti um amor transbordante por
todos aquele que eu via. Nunca sentira aquilo antes. Naquela mesma noite, eu e
Dick entramos numa das salas para orar. Algumas pessoas se uniram a nós e, em
pouco, a sala estava cheia. Enquanto orávamos outros foram cheios do Espírito
Santo. Por todo o hotel ressoaram gritos de alegria à medida que uns e outros
experimentavam a plenitude da presença de Cristo. Às duas da madrugada eu e
Dick tentamos ir dormir. Não adiantava tentar, estávamos por demais alegres. Eu
disse: “Vamos levantar e orar mais.” Oramos mais duas horas, suplicando a Deus
por todos os nossos conhecidos e depois louvamo-lo por sua bondade para
conosco.”